Autoridades de saúde e a Polícia Civil investigam nove casos suspeitos de botulismo iatrogênico no município de Três Pontas, no Sul de Minas. Os casos estão associados a procedimentos estéticos com toxina botulínica realizados por um mesmo cirurgião-dentista. Do total de pacientes, dois permanecem internados, enquanto os demais receberam alta após observação médica.
A investigação teve início após o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (CIEVS MINAS) ser notificado, em (07/07), sobre dois casos suspeitos. A primeira paciente, uma mulher de 60 anos, apresentou sintomas como dificuldade de fala, boca seca, paralisia facial e fraqueza muscular três dias após o procedimento. Ela foi internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em (07/07) e recebeu o soro antibotulínico (SAB). O segundo caso, um homem de 65 anos, manifestou visão turva e pálpebras caídas. No dia seguinte, (08/07), outros sete casos suspeitos, com sintomas semelhantes e ligados ao mesmo profissional, foram reportados.
Conforme a Santa Casa de Misericórdia de Três Pontas, dos nove pacientes atendidos, sete foram liberados após avaliação. Os dois pacientes que seguem internados, um na UTI e outro na clínica médica, estão medicados e clinicamente estáveis, recebendo acompanhamento das equipes de saúde. A apuração do evento envolve uma ação conjunta entre a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), Ministério da Saúde, Anvisa e órgãos municipais.
A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias. O boletim de ocorrência, registrado na quinta-feira (10/07), relata que a Vigilância Sanitária foi acionada após a internação dos dois primeiros pacientes. Durante a fiscalização na clínica, o profissional não apresentou o frasco do produto utilizado e, inicialmente, negou ter aplicado a substância em outras pessoas. Posteriormente, segundo o registro, ele contatou a fiscalização para informar que havia localizado outros pacientes que receberam o mesmo produto e que alguns já apresentavam sintomas.
O cirurgião-dentista informou às autoridades que atende na clínica em Três Pontas uma vez por mês e adquire os produtos em Pouso Alegre, onde possui outra clínica que já foi interditada. Ele também declarou que transporta a toxina botulínica em temperatura ambiente, justificando que a substância não estaria diluída durante o transporte.
Em nota, a clínica estética onde os atendimentos ocorreram esclareceu que o profissional atua de forma independente, por meio de sublocação de sala, sendo ele o único responsável técnico e legal pelos procedimentos e pela escolha dos produtos. A clínica reforçou que não tem relação com a apuração e se solidarizou com os pacientes, colocando-se à disposição para colaborar com as investigações.
O botulismo iatrogênico é uma condição neuroparalítica grave, não infecciosa, causada pela administração de toxina botulínica purificada para fins terapêuticos ou estéticos. Os sintomas incluem paralisia flácida descendente, com visão turva, pálpebras caídas, dificuldade para engolir e falar, podendo evoluir para insuficiência respiratória em casos graves.