O que dizer? Vergonha das vergonhas,desonra humilhante, opróbrio e ignomínia. Todas as qualificações do Aurélio para um ato tão imbecil que atinge qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo. Gostaria de ouvir esta enxurrada de xingamentos, que nada mais são do que a defesa da dignidade, na boca de Glauber Rocha, que morreu há vinte anos, em Sintra, Portugal e sempre foi uma usina de idéias e defensor de nós, pobres mortais..
A primeira vez que ouvi falar de Glauber, em Lavras, foi através do Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, que meu cunhado Nelson Carvalho me entregava todas as semanas. Fazia parte de um pequeno grupo, mais por afinidades, Luciano Carvalho, José Márcio Carvalho, Edilce Mesquita que se preocupavam com o moderno, em uma cidade em que a cultura vivia emperrada, como hoje. Mais tarde, em Beagá, enjoei de assistir Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe nos cine clubes. Um dia falei pelo telefone, com o baiano genial que reclamava que Capitu, de Paulo César Sarraceni e Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl não houvessem sido classificados para o I Festival de Cinema Brasileiro de Belo Horizonte. Fiz a defesa do júri, a pedido de Cássio França e agüentei a ira da fidelidade do cineasta aos amigos. Muito tempo depois, andando pela Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Rio de Janeiro, passei por ele, vestindo uma japona azul e cabelos revoltos. Talvez já estivesse doente, mas fazia um programa de vanguarda na TV Tupi. Por este tempo sua irmã, a atriz cinemanovista Anecy Rocha, morrera em um estranho acidente, despencando no poço vazio de um elevador. Crime praticado pelos imperialistas, gritava aos quatros cantos Glauber Rocha e não nos importávamos com a sua aparente falta de lógica.
A TV Minas exibiu um documentário de Sílvio Tendler sobre Glauber Rocha, baseado em cenas filmadas no seu funeral e depoimentos de personalidades do seu tempo. Que tempo era esse, me pergunto saudoso. Era um tempo em que até mesmo os intelectuais portavam-se com mais dignidade. Depois a vida ficou mais violenta e bater, machucar e ferir seu semelhante tornou-se uma banalidade, coisa de pivete da periferia. Em Belo Horizonte, capital das Geraes, incendiou-se uma casa noturna, cercada de todos os lados por suspeitas de corrupção na autorização do seu funcionamento, por políticos e burocratas. Cidadãos tremem de medo em todas as grandes cidades do país, pois agora são seqüestrados coitados que andam a pé pelas ruas. Pasmem!
Mas é preciso não perder a esperança que brota nos olhos de uma criança, diria de forma melosa, o poeta (poeta?) Thiago de Melo. Vivemos num infindável caldeirão de emoções e só nos resta espernear contra tanta sandice. E pedir que São Glauber que ilumine-nos com sua fúria divina...
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