Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Cc para o futuro
18/12/2020
“E para o caso de não nos vermos mais, bom dia, boa tarde e boa noite”!

A frase acima é uma das falas de Truman Burbank, clássico personagem de Jim Carrey no magistral filme O Show de Truman. Carrrey interpreta um homem normal, com uma vida normal, em um ambiente normal, tudo muito normal. Aliás, tão normal que só pode não ser normal. Mas Truman começa a desconfiar das coisas e das pessoas ao seu redor e as noções em sua cabeça começam a mudar, até que por fim ele percebe que toda a sua vida era monitorada e exibida em um programa de TV o tempo todo, para todo o mundo.

Me lembrei do filme para falar de rap e para falar de rap me volto para a escola. Foi trabalhando como professor que conheci uma cria de MC que hoje me motivou a escrever este texto. Escrevo, inclusive, para incentivá-lo. Em 2018, minha sala foi literalmente invadida por um estagiário da escola, aqui vale destacar que o mesmo não fazia estágio na minha turma, para me vigiar. Neste mesmo ano, para quem não se lembra, a loucura criminosa da “patrulha ideológica” estava no auge. Guardo este episódio como um dos mais patéticos e mais graves da minha trajetória enquanto educador. Patético porque não tinha nada a ser visto, além de um profissional trabalhando. Grave pela sanha totalitarista que acabou elegendo seu representante a presidência. 

Na mesma época, na Escola Estadual Coração de Jesus (Varginha) havia uma cultura das batalhas de MC’s entre os estudantes. Cultura vinda da rua e naturalmente reproduzida por eles dentro da escola. Um dos garotos que colocava suas rimas para jogo é o Ian Costa. Não tive a oportunidade de ser seu professor, mas tive sim a oportunidade do convívio. 

O hoje MC Ghost Nigga é uma versão evolutiva do menino que, como todos os outros, tropeçava nas próprias palavras, sem se importar que o pensamento não aparecesse do jeito que gostaria. Ghost Nigga é um jovem e, como jovem, é rebelde, defende suas ideias com ardência, com coragem, sem medo da própria coragem. O jovem nunca tem. 

Este mesmo garoto, estudante ainda, acaba de lançar cinco músicas que me surpreenderam pela qualidade. Ian Costa é um exemplo da desnormalização do normal. Em um país extremamente desigual, injusto e que força a todo custo a naturalização da desigualdade e da injustiça, a cultura do rap, a cultura do hip hop fez mais um MC despertar, fez mais uma consciência despertar. Que este fantasma atravesse qualquer barreira para despertar outras consciências. 

E que nós, educadores, possamos entender os potenciais e dar mais valor ao que a arte, em suas múltiplas linguagens, pode fazer. 

MC Ghost Nigga, vá para a escuridão e brilhe.

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