O Sistema Interligado Nacional (SIN) pode enfrentar dificuldades para atender à demanda de energia elétrica nos horários de pico, especialmente no período noturno, durante os próximos cinco anos. O alerta foi emitido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no Plano da Operação Energética (PEN 2025), divulgado nesta terça-feira (08/07). O documento aponta que, sem a realização de novos leilões para contratar potência, o Brasil dependerá de medidas adicionais para garantir o suprimento.
O relatório, que analisa o cenário de 2025 a 2029, conclui que haverá a necessidade de acionar usinas térmicas flexíveis para suprir a demanda nos momentos de maior consumo. Entre as medidas alternativas consideradas pelo ONS está a possibilidade de recomendar o retorno do horário de verão, suspenso desde 2019, cuja adoção dependerá das projeções de atendimento para os próximos meses.
A causa do desafio estrutural é a mudança no perfil da matriz energética brasileira. Houve um crescimento expressivo de fontes renováveis intermitentes, como a eólica e a solar, incluindo a mini e microgeração distribuída (MMGD). Essas fontes, contudo, reduzem ou cessam sua produção durante a noite, justamente quando ocorre o pico de demanda e a maior necessidade de potência firme no sistema.
Para os próximos anos, estima-se um acréscimo de 36 GW de capacidade instalada, totalizando 268 GW em 2029. A fonte solar, somada à MMGD, corresponderá a 32,9% da matriz elétrica nesse horizonte, tornando-se a segunda maior do país. Essa transformação exige maior flexibilidade das usinas hidrelétricas e o despacho estratégico de termelétricas para compensar as variações.
O documento enfatiza a urgência na realização de leilões anuais de reserva de capacidade. Um certame do tipo, previsto para o ano passado, foi judicializado e, posteriormente, cancelado em abril por uma portaria do Ministério de Minas e Energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que aguarda uma nova diretriz para organizar um novo leilão.
Sem esses leilões, o ONS projeta um risco explícito de insuficiência de oferta de potência (LOLP) em todos os anos analisados, com o aprofundamento do problema ao longo do período. As projeções indicam violações dos critérios de segurança de agosto a dezembro de 2026, de agosto de 2027 a abril de 2028, e de julho de 2028 a dezembro de 2029.
Outro ponto de atenção são as novas "cargas especiais", como datacenters e plantas de hidrogênio verde, que demandam um alto e constante suprimento de energia com baixa flexibilidade. Segundo o ONS, a inserção dessas cargas agrava a dificuldade de atendimento no período de ponta noturno. O Operador recomenda cautela e planejamento para viabilizar esses novos consumos sem comprometer a segurança do sistema.