Assistindo ao noticiário regional, fui golpeado pela notícia de mais um brutal assassinato em terras sul mineiras. Francisco Manoel da Silveira, 28, garçom, figura simpática, educada, atenciosa, fácil de encontrar nas ruas de qualquer de nossas cidades. Cruelmente espancado, dentro de casa. Mais um crime de ódio, reforçando as estatísticas de meu último artigo. Mais uma vida ceifada. Mais uma família entristecida. E os culpados? Que vergonha de ser mineiro, sul mineiro...
No domingo, em praça pública, concerto com o maestro Wagner Tiso, 61, mineiro, de Três Pontas, um dos maiores compositores e arranjadores do país, respeitado internacionalmente. Acompanhado pelo violonista Victor Biglione e pelo violoncelista Hugo Pilger, Wagner Tiso emocionou os presentes, que resistiram com bravura ao frio de 13 graus. Harmônica convivência de crianças, jovens, adultos e idosos, de todas as classes sociais, vendo e ouvindo o que de melhor há na música brasileira. Que orgulho de ser mineiro, sul mineiro...
No último sábado, em um programa de auditório, Rogério Flausino, 35, mineiro de Alfenas, integrante da banda J Quest e Milton Nascimento, 64, de naturalidade carioca, mas mineiro, de Três Pontas, de coração, deram show! Fizeram toda a diferença na comemoração do aniversário de Serginho Groisman, ressaltando um programa totalmente Minas Gerais, escoltados pelo Alimenta Minas; dez rapazes trespontanos que, ao invés de praticar crimes, praticam música! Que orgulho de ser mineiro, sul mineiro...
Sexta-feira, Rodrigo Jesus Dias, 21, morre vítima de agressão, a socos e pontapés; briga de festa, em bairro da periferia. Os autores? Quatro rapazes. Alguma semelhança com o Rio de Janeiro? Que vergonha de ser mineiro, sul mineiro, carioca...
Que turbilhão de sentimentos! Em alguns momentos, orgulho total e irrestrito. Orgulho de nossos talentos, de nossa disposição para o bem. Em outros, vergonha de aqui ter nascido. Vergonha de estar sob o jugo de autoridades que, recebendo à custa de nossos impostos, sequer erguem a cabeça para vislumbrar a tristeza dos que ficam.
Com o olhar turvo e a alma repleta da vergonha de ser, recorro aos versos de Castro Alves:
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!“
Mas brasileiro, mineiro e sul mineiro que sou, não perco jamais a vontade, a esperança e o orgulho de ser. E então, recorro àqueles que me motivam, Wagner Tiso e Milton Nascimento:
“Mas renova-se a esperança
Nova aurora, cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor e fruto.”
E pra finalizar, já que Francisco e Rodrigo não tiveram tempo, façamos com que o orgulho sobreponha a vergonha. Fiquemos com Rogério Flausino:
“Cospe a dor que a vida impôs
E sente o calor a cada momento
Se faça existir, agora! Descubra o que se pode ser
Já não importa o que ficou
Sente o quanto se quer ser
Sente o quanto há em mim.”
“Agora o que vamos fazer, eu também não sei
Afinal, será que amar é mesmo tudo?
Se isso não é amor, o que mais pode ser?
Estou aprendendo também.”
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