Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Belém do Pará - 11 de novembro de 2003. Há quase que 17 anos atrás....
07/07/2020
Às dezoito horas, no findar o dia, o céu sombrio  e  seu manto negro transformou o centro da cidade.

As abomináveis bancas de vendedores ambulantes tornaram-se cinderelas. As luzes dos lampiões iluminaram as frutas amazônicas amontoadas em sua abundância. O artesanato local ressaltava aos olhos do transeunte e as fachadas dos edifícios mal cuidados desapareceram na penumbra que anunciava o findar do dia.

Era a chegada da magia da noite paraense, o encanto sutil de Belém do Pará, a Princesinha do Norte, a Paris das Américas.

Entre prostíbulos, ruas mal pavimentadas, lixo amontoado no chão e as ruínas de uma cidade que fora outrora elegante e que perdera com o tempo a sua alma, encontrei-me em um bar simples com suas mesas e cadeiras de plástico azul suvinil. Paredes amarelo-manga, máquinas de jogos eletrônicos dos anos 70  já se transformando então em objetos de decoração naquele ambiente bizarro e belo onde pedi uma cerveja e reencontrei o personagem viajante contumaz que se esconde em meu âmago. Ele estava de volta. Nós éramos dois em um só.

Em cinquenta minutos, eu seguiria de Belém rumo à sua rival  capital do Universo Amazônico brasileiro: Manaus.

O País me chamava para a singela missão de contribuir para o resgate da entidade brasileira dentro de minha parca e fugaz competência.

No dia seguinte, na Capital Amazonense, às 17h, fui recebido por representante de uma renomado e importante instituição financeira, potencial patrocinadora do projeto que levava em mãos.O  encontro  foi inócuo, pois o funcionário público não tinha poder de decisão e parecia assustado face à dinâmica de um editor da iniciativa privada. Pensei comigo mesmo, de forma quase irritada: "coisa comum neste mundo de seres chupins, mamantes das tetas do Estado, vis personagens  que se apresentavam como moluscos disformes, vorazes, lentos e incompetentes".

Veio - me então, horas depois , aos ouvidos palavras de canção outrora submersa em meu cérebro: ..."era um peito só, cheio de promessas era um só"..."é água do mar, é maré cheia ô, mareia ô , mareia ô , é agua do mar..."... e a música  O Canto de areia através da divina voz da saudosa cantora Clara Nunes tomava conta do ambiente através de um CD pirata utilizado em um bar popular manauara. A melodia me levava ao túnel do tempo, à saudosa inocência perdida, às angustias estocadas no peito de um jovem adolescente que fora produto de uma família pequeno-burguesa e algoz de seus próprios princípios no início da incursão em busca da famigerada autoafirmação.

Com o espírito lá atrás, desde então, três décadas se passaram e sinto que não amadureceu ainda em mim o jovem que permanece preso ao meu corpo pertencente a um ser de 50 anos; ente persistente, ora revoltado, ora inseguro ou amante do  seu insosso cotidiano.

Na minha percepção, a velhice era uma imposição do Destino ,era a manifestação também do caminho óbvio da decadência física e mental e por isso a rejeitava.

Voltou-me à mente a discordância com as imposições da Vida: "não, não existi  ainda o suficiente para usufruir da compreensão da existência humana, do viver na sua verdadeira essência e concepção da palavra". "Por que devo abater-me? Por que devo contrariar o meu instinto? Por que devo aceitar as imposições do Destino?". 

Martelava em meu cérebro : "Eu quero viver... e para tanto, necessito  alimentar-me de conhecimento desse País desvairado, dessa Nação cruel e fascinante; desse Continente malfadado, desse Planeta agonizante...!

Enquanto deixava minhas ilusões tomarem conta do pensamento, aproximou-se um vendedor de frutas com seu carrinho de madeira que ostentava o que surgia do ventre da Mãe Natureza Amazônica. Ali vinha ele carregado de alimento para muita gente.

De repente, na esquina da rua ao lado do boteco apareceu sobre duas rodas e uma  frágil e bizarra estrutura de madeira, um  jovem e franzino vendedor que era para nós, naquele momento, o personagem mais importante da Terra.  Chegara até mim  e o viajante o Príncipe da Amazônia, da Amazônia Legal, da Amazônia Brasileira e da Amazônia Sul-Americana que de forma brusca , aleatória e incentivadora, despertou em nós,novamente ,o sentimento de percorrer constantemente os caminhos do anseio de conhecimento e de descoberta de meu País.

Sentia-me, naquele mágico instante, um Ser Brasileiro  na profunda concepção do  verdadeiro sentimento de cidadania.                  Estávamos reunidos. Eu e o Comigo Mesmo, no labirinto das percepções de um perpétuo adolescente.

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