Saulo Barbosa (*)
O espetáculo Crazy for You, que teve recente temporada de sucesso no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, é o mais completo em relação a leva de musicais nacionais adaptados da Broadway.
Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello, protagonistas, emprestam aos seus personagens atributos técnicos precisos capazes de tornar a apresentação quase irretocável. Seja no canto, na interpretação ou na dança ambos prendem o espectador. E, pasme, surpreendem mesmo aqueles que acompanham de perto a trajetória dos dois.
A montagem brasileira é baseada na produção que estreou na Broadway em 1992. Crazy for You é inspirado no clássico musical Girl Crazy, de 1930, com melodias de George Gershwin e letras de seu irmão Ira Gershwin. Conta a história de uma caipira, Polly (Claudia Raia), que se apaixona por um sapateador rico de Nova York rejeitado pela Broadway, Bobby (Jarbas Homem de Melo). Juntos, no recanto longínquo em que ela mora, vão tentar salvar o teatro da família da moça.
A versão brasileira é de Miguel Falabella. Ele tem grande mérito ao respeitar o texto original sem deixar de dar pinceladas fortes do humor tipicamente brasileiro.
Crazy for You coroa a maturidade artística de profissionais ligados a produção de grandes musicais no Brasil. Os cenários de Duda Arruk remetem com frescor ao velho oeste que todos temos fantasiosamente - ou não - em mente. Bem como a Nova York glamurosa. Fábio Namatame acerta nos figurinos nos dois espaços com cores fortes e tecidos complexos.
A direção geral é, mais uma vez, de José Possi Neto. Ainda assim a condução dos atores se diferencia bastante da observada em Cabaret, por exemplo, outra versão brasileira da Broadway para Claudia e Jarbas dirigida por ele. Ponto para o diretor, claro.
Um dos diferencias deste em relação a outros musicais é o sapateado. Área em que Claudia Raia nada de braçada e o elenco, encabeçado por ela, não sai por baixo. Há grandes momentos de precisão incrível de todo o grupo.
Em elenco afinado e entrosado há muitos destaques. Três em especial desta vez: Rodrigo Negrini, mineiro de Alfenas, que interpreta Lank Hawkins, o dono do hotel no interior e a paulista Hellen de Castro, vivendo a bem nascida Irene Roth. Ambos chamam a atenção. Ele, pela imponência que garante ao personagem. Ela, pela segurança no canto e na dança. Destaque também para outro mineiro, de BH, Rodrigo Millaret, como Everet, pai da protagonista.
A orquestra tem direção musical de Marconi Araújo e regência de Beatriz de Luca. Alinhamento perfeito com os atores em coreografias e cantos. Envolvente.
Na capital mineira a produção local foi assinada pela Box Entretenimento, que tem intensificado a agenda de mega produções em BH.
(*) Saulo Barbosa é jornalista. Crítico de artes.
