Coluna | Expressão
Fabricio Serafim
34, é economista e ativista social em Varginha-MG, escreve às quintas-feiras neste espaço, no jornal Correio do Sul (Varginha) e no Jornal do Estado (Pouso Alegre).
Moreninho, escurinho ou negro?
06/06/2007
Está de volta à baila uma forte discussão sobre a classificação racial e o sistema de cotas para negros, em universidades públicas, no Brasil, após um fato isolado, ocorrido na Universidade de Brasília, que classificou irmãos gêmeos univitelinos de forma distinta, conforme divulgado em matéria de capa por uma revista de circulação nacional.

É muito claro o conceito que define a composição genética dos seres humanos. Um negro pode conter alta carga de genes europeus, bem como um branco pode ter grande presença de genes africanos e indígenas. Mas não é a composição genética o fator preponderante no direcionamento da metralhadora racista. O que motiva o preconceito, em geral, é a cor da pele. Negra!

Para citar exemplos de nosso dia a dia, basta olharmos ao redor. O leitor, que está agora em seu local de trabalho, seja ele em uma empresa privada ou em um órgão público, olhe à sua volta: Quantos negros ocupam cargos de maior expressão em seu ambiente profissional? Posso apostar que, fazendo a limpeza, o cafezinho, cuidando do jardim ou da portaria, eles são a maioria. Mas e nos postos de chefia? E em nossas salas de aula, nas escolas privadas e no ensino superior? Qual é a relação entre o número de negros e brancos? Entrem em uma agência bancária. Qualquer uma! Onde estão os negros? Geralmente, na fila do benefício social! Os estagiários, caixas, supervisores e gerentes, salvo raras exceções, têm a pele branca – ou quase.

No Brasil, o que prevalece é o preconceito velado. Dificilmente ouvimos alguém se referindo a uma pessoa como “negra”. Em uma ridícula forma de “piedade”, tentamos amenizar, dizendo: “-Aquele escurinho. Aquele moreninho”.

Temos que reconhecer que a convivência entre raças no Brasil é majoritariamente pacífica. Neste país não existe o apartheid oficial. Os pobres, sejam eles brancos, negros, vermelhos ou amarelos freqüentam o mesmo ônibus, a mesma fila do SUS, os mesmos botequins. Já nos restaurantes da moda, nas danceterias de classe média, nos shoppings e nas clínicas privadas, a realidade é outra.

A questão aqui, não é racial. É econômica! É uma questão de oportunidade histórica!

O que se pretende, com o sistema de cotas, é dar acesso imediato aos negros. Que tenhamos sua presença em ambientes acadêmicos refinados, até então exclusivos dos filhos dos brancos e dos endinheirados. E não venham me falar que o erro está na educação básica, porque isto estou – literalmente – careca de saber! É óbvio que para resolver o problema, no longo prazo, o caminho é uma revolução na qualidade do ensino, desde a infância. Mas, e para os milhões de negros excluídos, desde a abolição, desta oportunidade? O que diremos? Que o Brasil é o país do futuro? Que seus filhos e netos poderão viver uma realidade diversa da atual?

Dizer que o sistema de cotas privilegia um novo tipo de preconceito, amputando vagas por mérito acadêmico, é o mesmo que afirmar que um garoto de classe média, bem alimentado, agasalhado, estudando em uma escola renomada, está em igualdade de condições com o menino nascido no sertão do nordeste, de pés descalços, com a barriga cheia de vermes e que caminha quilômetros por dia a fim de receber aulas de uma professora semi-analfabeta.

Ora, se o sistema de cotas para negros, que não é uma medida definitiva, for considerado contrário à constituição, que prevê a igualdade entre todos, o que dizer do sistema de cotas para mulheres nas eleições proporcionais? O que dizer das cotas para deficientes no serviço público? O que pensar sobre a fila e os acentos preferenciais para gestantes e idosos? Estas e outras medidas separam, sim, as pessoas, buscando reparar distorções, tornando a sociedade mais diversa, mais igualitária, onde todos tenham oportunidades similares, respeitadas as diferenças físicas, nunca as raciais ou sociais.

Não sou contra qualquer destas ações afirmativas, que buscam, assim como o sistema de cotas para negros nas universidades, corrigir dicotomias.

É evidente que, em qualquer ação, pode haver enganos, como no caso da UNB. Mas o fato de pessoas sem caráter utilizarem idosos para “furar as filas” é motivo para extirpar o benefício que se presta a privilegiar milhões de outros idosos?

Na realidade em que vivemos, o sistema de cotas é fundamental para reparar um engano histórico, que classificava cidadãos pela cor de sua pele. Mas que ele não seja “temporário” como a CPMF. Ele deve existir por prazo determinado, aliado a políticas que remodelem o sistema de acesso, tornando-o similar para todos.

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