Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Descobrindo o Japão
13/04/2014
-  Yannick, meu filho, após ter vivido vários anos no Brasil, você teve contato com pessoas de origem japonesa que residem neste vasto Pais. O que mais apreciou na relação de amizade ou de trabalho que teve com eles? O que mais o impressionou em seus comportamentos ? 

 

- Não sei se é possível generalizar a todos, mas as pessoas de origem japonesa com quem tive contato sempre me pareceram muito bem educadas e cordiais. O que me impressionou em seus comportamentos foi principalmente a seriedade com a qual levam seus estudos e trabalhos: são esforçados, têm seus objetivos, e batalham bastante para alcançá-los. 

 - Atualmente, e há 2 anos, você vive em Paris onde a presença japonesa também é bastante forte, porem seria possível traçar um paralelo entro o comportamento do japonês parisiense e o japonês paulistano, por exemplo? O que aparentemente os une? 

- Desde que cheguei em Paris, acabei não tendo muito contato com a comunidade japonesa daqui, que não é tão claramente visível e identificável como em São Paulo (muitas vezes estão misturados com outros imigrantes de origem chinesa e vietnamita, mais presentes na França). Porém, como no Brasil, esta comunidade japonesa ainda mantém vínculos com suas tradições. Não é incomum passear no 13 Arrondissement (bairro de Paris) e encontrar supermercados com produtos japoneses, ou lojas oferendo objetos tradicionais como o Maneki-Neko, aquele gatinho japonês símbolo de Boa Sorte e Prosperidade. São também trabalhadores natos, e provavelmente não é a toa que uma grande parte dos poucos restaurantes abertos aos domingos em Paris sejam justamente os japoneses. 

 

- No Brasil, desde 1908, quando chegou em Santos a primeira leva de imigrantes do Japão para o Brasil, a Comunidade se multiplicou e hoje está presente fortemente em todas as regiões, na agricultura, na área de serviços e, mesmo no mundo político e cultural, a presença nipônica se faz presente. O que sentiu ao ter contato direto com o Japão em sua primeira viagem para esse país? 

 - Eu ainda lembro de meu primeiro contato com a cultura japonesa, quando ainda era pequeno, com menos de 10 anos. Tínhamos ido ao bairro japonês de São Paulo  almoçar, e não sei por que motivo voltei encantado. Os cheiros de yakitori e outras delícias que vinham dos stands da Feirinha da Liberdade, o gosto do golinho de sakê quente com sal que pude experimentar, as escritas diferentes, as latinhas de suco de Lichia (fruta asiática). Ao longo dos anos, acabei tendo contato com outros aspectos da cultura japonesa. Minha grande duvida era: será que o que vou encontrar neste contato direto com o Japão será condizente com as impressões que já tinha? Será que na "fonte" as coisas seriam totalmente diferentes?

Ao chegar em Tokyo, senti que na realidade essas percepções que tinha do Japão e dos Japoneses não eram diferentes da realidade, mas muito superficiais. E uma cultura muito mais profunda e complexa do que a ponta do Iceberg e das pré-concepções e lugares comuns que temos sobre eles. Conseguia encontrar um norte na exploração de Tokyo, mais ainda tinha muito o que compreender. Isso me fascinou. 

- Quantas horas de vôo de Paris para Tokyo? Você estava ansioso? Tinha expectativas especiais sobre esse primeiro contacto com o Japão? Tinha idéias pré-concebidas sobre o que iria encontrar? 

 - O trajeto foi longo, mais pela ansiedade do que pelas horas de vôo. Foram quatro horas até Istambul, duas horas de escala e mais onze horas de vôo até chegar ao Aeroporto de Narita em Tokyo. Esta viagem ao Japão era um sonho de muitos anos. Temia que os doze dias de viagem não fossem suficientes! 

- Qual foi o primeiro sentimento ao chegar ao aeroporto de Tóquio? Algo o deixou surpreso? O que? 

- Eu só me dei conta que tinha chegado em Tóquio quando comecei a ver os primeiros painéis do aeroporto escritos em Kanji. Sorri, pois "caiu a ficha" de onde eu estava e da sorte que eu tinha por ter a oportunidade de conhecer este pais! Ja na fila da imigração, senti os primeiros traços da famosa organização japonesa. Tudo disposto de maneira a fazerem as pessoas fluírem da forma mais prática e eficaz possível! Muito diferente do caos simpático que tinha acabado de vivenciar no aeroporto Ataturk em Istanbul! Não fiquei surpreso, mas logo pensei... é, estou no Japão! 

-Ao sair do aeroporto , como seguiu  para o hotel? Foi de táxi ou de transporte publico? Acredito que já tenha podido notar diferenças seja na qualidade dos serviços seja na paisagem seja no comportamento humano. 

 - Ao deixar o aeroporto, segui para o Hotel, localizado no bairro histórico de Asakusa, pelo transporte publico. Peguei a linha Keisei que me levou diretamente à minha estação. Ja no aeroporto deu para perceber o universo que nos separa deles em matéria de serviços e transporte publico. Do aeroporto eu poderia chegar onde eu quisesse na imensidão de Tóquio, com opções de trem expresso, semi-expresso ou local, em função de seu bolso e de sua paciência. Vendo minha confusão face a tantas opções, uma atendente que parecia conhecer todos os caminhos e baldeações possíveis e imagináveis me indicou em questão de segundos o caminho mais adequado, sem esquecer de me perguntar antes se eu estava com pressa ou não.

Ja no interior do trem, ja se vê traços de comportamento diferentes do nosso: pessoas resfriadas usam mascara para não contaminar os demais no transporte publico, as pessoas conversam baixo e ninguém fala no celular. 

 

- Como foi o trajeto do aeroporto até o hotel? O que ficou gravado em sua memória e que nunca mais esquecerá? 

- O trajeto noturno de mais ou menos uma hora foi inesquecível, apesar do cansaço da viagem, não queria desperdiçar nem um segundo da minha estadia. Observava as pessoas, as propagandas no metrô, e as poucas paisagens urbanas que consegui ver pela janela do trem à noite. Uma coisa que não esquecerei, são as palavras cruzadas que meu vizinho de assento estava tentando resolver. Dei uma espiada em seu jornal, quando percebi algo que não havia me dado conta para valer antes: sou analfabeto aqui! Uma sensação curiosa de ignorância! 

 - Relate , de forma fluente, o que aconteceu a partir desses momentos iniciais e me conte o que mais apreciou, o que mais o encantou, o que mais o intrigou seja na descoberta física do Japão, seja no contato humano com os seus habitantes. Que locais visitou, frequentou, descobriu? 

 - A educação e organização japonesa, se não me surpreenderam, me encantaram. Tudo é pratico, absolutamente tudo. Você pode sentir sede em qualquer lugar e a qualquer hora do dia e da noite, que encontrara uma máquina com uma variedade de sucos, cafés, chas, quentes ou frios, para saciar sua vontade. Precisa jantar às três horas da manha? Encontrará um lugar com comida boa e barata rapidamente! Os esforço é mínimo! E o cliente é realmente rei.

Tive a oportunidade de almoçar em lugares típicos onde os japoneses vão, visitei parques, bairros históricos, bairros modernos, centros comerciais imensos, templos magníficos fonte de calma e serenidade, torres com uma vista incrível que nos fazem sentir que estamos numa cidade do futuro, feiras com todo tipo de cheiros e sabores e também os famosos "games". Passeei desde o simpático e pacato bairro de Yanaka onde se pode comer especiarias locais e tomar um sakê sentado em um velho banco de madeira observando o tempo passar, até o agitado, movimentado e barulhento bairro de Shibuya, repleto de lojas, bares e restaurantes e que parece não parar nunca!

A passagem pelos templos foi bastante enriquecedora. O ano novo no Japão é um dos feriados mais importantes (Oshogatsu) e milhões de pessoas se dirigem todos os anos aos templos para rezar por boa sorte e começar o ano novo com boas energias! Foi excepcional passar de um 2013 movimentado e difícil para 2014 em meio a tanto otimismo e energia positiva.Tive a oportunidade de tomar um banho de Onsen, me confrontando a outra cultura em relação ao pudor.

O que acabou mais me intrigou nesta descoberta física de Tokyo, são justamente os contrastes visíveis: há bairros tradicionais, tranquilos, onde se caminha a pé que contrastam com bairros ultra-modernos, repletos de arranha-céus onde parece estranho estar caminhando a pé. Sao contrastes Passado/Futuro, Tradição/Modernidade, Vazio/Cheio, Barulho/Silêncio, Agitação/Calma, Serenidade e Zen, Orgulho de sua Cultura Japonesa / Confusão e crise de personalidade na Mescla com o Ocidente.

Cruzei japoneses reservados e simpáticos, curiosos de ver que pessoas vindo de tão longe se interessam tanto por seu país e sua cultura! Muitos dispostos a ajudar sem que precisássemos pedir, ao perceber que tínhamos dificuldade em nos localizar. 

 - O que gostaria de ter feito mas não conseguiu? 

- Acabei ficando só em Tokyo, e gostaria de ter saído mais para ver as zonas rurais. Também gostaria de ter ido ver o Monte Fuji e visitar a maior estátua  de Buda do Japão, localizada em Nara. Por questão de dias, também perdi a oportunidade de assistir a um torneio de Sumô! 

- Você fotografou durante a sua estada no Japão? Estou curioso em ver as suas imagens . Certamente são emblemáticas ... 

- Realmente,  é impossível  não fotografar durante esta viagem ao Japão! Brinquei comigo mesmo que estava dando o troco a todos os turistas japoneses que cruzo todos os dias tirando fotos em Paris! Tinha chegado  a minha vez de clicar tudo que eu via!   

 - Para quando a sua próxima previsão de volta ao Japão? Por que voltaria? Por quem voltaria? 

- Ainda não sei exatamente quando voltarei ao Japão, provavelmente ainda este ano para visitar minha namorada que lá mora. Sera interessante retornar pois, de um lado, ainda tenho muito por  descobrir, e também porque cada estação tem um significado único no Japão! Será interessante desvendar este país sob outras temperaturas e cores. Não seria um sonho presenciar a primavera e a eclosão das cerejeiras? 

 

- E a culinária? é saborosa? Qual foi o prato que mais apreciou? O que não comeria novamente, por que? 

- A culinária é saborosa, mas exige muita "coragem" pois demanda uma boa dose de experimento de gostos e texturas muito diferentes das que estamos acostumados! O sushi e o sashimi tão famosos são apenas uma pequena parte da rica culinária japonesa! Apesar de não ser muito chegado a peixe, não pude deixar de me encantar com o salmão mais fresco que já comi ,quando visitava os arredores do mercado de Tsukiji, o maior mercado de pescados do mundo! Mais fresco impossível! Numa próxima viagem, tomarei cuidado ao pedir meus yakitoris! Todo contente de reencontrar os sabores que havia descoberto no bairro da Liberdade, me dei conta que meu espetinho de frango era na realidade um espetinho de pele de frango, provavelmente não sua parte mais agradável rsrs! 

 - Algo o terá feito mudar a sua maneira de ver e de compreender o Ser Japonês a partir dessa viagem? 

-  Meu pai, ao ver como vivem os japoneses, compreendi melhor seu comportamento e os choques culturais que podem ter quando nos visitam ou moram em nosso pais! Uma coisa é certa, quero conhecê-los melhor.

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