Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Bahia, Salvador, futura terra dos santeiros
26/05/2010

Exuberância na vestimenta de origem africana


Aspectos da vida do soteropolitano

Imagens significativas do lazer brasileiro

A Santa Casa da Misericórdia abriga um importante Museu

Religiosidade e arquitetura da Capital

13 horas. Sexta-feira, 14 de maio de 2010. 28 graus Centígrados. Céu encoberto com alguns raios fúlgidos que iluminam a costa entrecortada por dunas, coqueiros e construções irregulares. Estou em Salvador. Acabo de chegar. Desejaria escrever-lhe uma carta longa, como antigamente, relatando a minha emoção ao estar de volta à capital baiana. Decidi hospedar-me no Hotel Thames, edifício Thames, obra de Oscar Niemeyer a qual desfigura o harmônico conjunto da Praça da Sé, no centro histórico. Do sétimo andar, onde se encontra o descuidado hotel (sob nova direção!!!) vislumbrei a Baía de Todos os Santos em seu pleno esplendor. Nas águas plácidas se deslocavam em ritmo lento os saveiros e os transatlânticos repletos de turistas desavisados à busca de aventuras insossas, “seguras”, incultas e insanas.

O espírito brasileiro presente na arte popular

Dialoguei rapidamente com o filho do proprietário do Hotel, jovem franco-brasileiro, simpático e rechonchudo, aparentemente cheio de idéias e de boas intenções.            

Ao descer do hotel encontrei um dos “guardiões do Pelourinho” que, entre os pequenos pedintes indigestos e indigentes daquela área esquecida e maltratada pela incompetência dos dirigentes político-corruptos da terra soteropolitana, conseguiu sobreviver e agora era um adolescente, ainda mendigo, ainda no mundo das drogas e do futuro incerto.

 

O maltrapilho infeliz acompanhou-me até um táxi cujo motorista desviou o carro de nossa rota, fez uma volta enorme até chegar ao destino desejado e a corrida ficou caríssima. Busquei de forma amena transmitir-lhe a minha insatisfação e para minha surpresa ele abriu um largo sorriso com seus lábios negros e carnudos, dentes claros alinhados, e convidou-me para mais tarde tomar umas brejas (cervejas) juntos. Concordei. Desejava realmente saber se havia ou não sido enganado.

Ao deixar o local do encontro de trabalho caminhei a beira mar, entre cocos despedaçados, palhoças de madeira cobertas de folhas de palmeiras e admirei ao fundo um céu límpido sobre um mar rosado, cenário idílico onde algumas crianças gritavam com suas brincadeiras alegres. O som estridente de seus manifestos pareciam eternizar-se naquele horizonte de fim de tarde. Continuei caminhando. Ao ouvir o som do forró senti-me embriagado. Percebi pelas frestas de uma janela em decomposição, lá dentro, o cantor que com sua guitarra levava os presentes a movimentar-se em uma dança gostosa e sensual. Eu me encontrava imerso no Brasilzão. Estava distante das preocupações e dos afazeres de meu cotidiano. Encontrava-me em Salvador da Bahia , na orla da desintegrada, desconexa, agredida, porém caminhava pela maravilhosa Praia de Itapuã...

A Câmara de Deputados em edifício histórico

Dormi em um quarto enorme daquele sórdido estabelecimento com cerca de quarenta metros quadrados de superfície e tendo um pé direito de 3 metros de altura. Fiquei a imaginá-lo transformado em um estúdio onde habitaria se fosse amiúde a Salvador. Dialoguei com as baianas vendedoras de acarajé, com os vendedores ambulantes de café em seus carrinhos originalmente decorados, com os meninos de rua, com os taxistas, com os militares, com os afoitos trabalhadores...

“Se alguém me perguntar onde eu te vejo,

Responderei: no peito, que uns amores 

De casto desejo

Aqui te pintaram,

E são bons pintores

Mal meus olhos te viram, ah nessa hora

Teu retrato fizeram, e tão forte,

Que entendo, que agora

Só pode apagá-lo 

O pulso da Morte.”

A necessidade de restauro na Cidade Baixa Edificações históricas e imponentes de Salvador

- Palavras fortes nessa poesia de Thomaz Antonio Gonzaga. Aonde quer chegar?

- Sou apaixonado por Salvador. Pela Baía de Todos os Santos, pelas baianas, pelos baianos, pela moqueca de peixe, pelo acarajé...

- Pelo axé também?

- Não. Detesto o axé. Infelizmente a Bahia tem exportado o que há de pior em termos musicais ao privilegiar a divulgação da vulgaridade em detrimento dos verdadeiros valores culturais existentes naquela terra abençoada. Abaixo o axé. Viva a Bahia. Viva a verdadeira cultura baiana!!!

A força da natureza no horizonte da Baía de Todos os Santos A Praça da Sé vista do edifício Thames

22 horas, sábado, 15 de maio de 2010... ”Aquela agradável senhora, linda, baiana e negra, pequenininha que nos acolhia sempre de bom humor e de forma discreta; onde estava ela?... Morreu? Como assim, faleceu? Há quanto tempo isso ocorreu? Dois anos? Meus Deus!!!...”

 - No centro, bem no meio daquele pequeno bar com as mesas cobertas com toalhas floridas, de chita, repousavam vasinhos com flores azuis artificiais de plástico em um ambiente lusco-fusco onde imperava uma luz vermelha nada acanhada. Em um dos cantos daquele espaço, discretamente e de forma quase indecente em sua atmosfera de prostíbulo de interior, eu senti um vazio enorme. A nossa deliciosa rainhazinha afro-brasileira ainda irradiava a sua luz, a sua energia, através de um enorme quadro com sua foto emoldurada e dependurada por cordões que deslizavam do teto pintado de azul por onde se entrecruzavam bandeirolas imóveis de papel colorido. O seu reino e a sua presença se impunham naquele bizarro santuário no universo do Pelourinho.            

Baiana, excelente cozinheira O acarajé, produto imaterial baiano

Saí caminhando, perambulando sem rumo, “sem lenço, nem documento”, sem orgulho, sem medo. Caminhando contra o vento entre paredões seculares, pisando em paralelepípedos que certamente foram pacientemente dispostos por mão de obra barata, mal remunerada, cujo trabalho jamais será conhecido por aqueles que afoitamente por ali passam noite e dia.

- Fico curioso quando o encontro após suas viagens pelo gigante ibero-luso-sulamericano, mas a sua leitura da vida é melancólica e, às vezes, tristemente bela.      

O vendedor ambulante e seu universo Arte popular nos muros de Salvador

- O Brasil me assusta meu amigo. Um dia falaremos seriamente sobre esta questão. Agora vou dormir. Boa noite.

- Boa noite senhor melancolia. E essa história de futura terra dos santeiros?

- Deixa pra lá. Depois eu explico. Zzzzzzz...

Comente!

 
Últimos artigos deste colunista
« ver todos
 
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Colunistas

SIGA O VARGINHA ONLINE Curta a Página do VOL no Facebook Siga o VOL no Twitter Fale conosco
Página Principal | Expediente | Privacidade | Entre em Contato | Anuncie no Varginha Online
Site associado ao Sindijori

Todos os direitos reservados 2000 - 2023 - Varginha Online - IPHosting- Hospedagem de Sites (Parceiro Varginha Online)