Neste afã, três assuntos mereceram destaque na semana, sob meu ponto de vista:
Para começo de conversa, o Supremo Tribunal Federal, de forma limpa e clara libera as pesquisas com células tronco embrionárias, após exaustiva discussão dos Ministros, cujas justificativas – favoráveis ou contrárias – embasaram-se em estudos, pesquisas de campo, entrevistas com cientistas, médicos, pacientes, religiosos, etc. A decisão do STF demonstra o quanto uma discussão madura contribui para o avanço, para a formação de uma sólida opinião sobre temas tão importantes, que não podem ser resolvidos a partir de dogmas, mas sim por meio de debates concisos. Apesar de ser absolutamente favorável às pesquisas, não deixei de ficar encantado com a eloqüência dos magistrados que votaram contra e, confesso, aprendi muito com eles. Mais uma vez, reafirmo minha convicção de que a expressão de idéias e a discussão em torno das mesmas ainda é o melhor caminho para adquirir conhecimento e, a partir de então, opinar com maior intensidade, de forma coerente.
Em um segundo momento, quero questionar a dita “liberdade de imprensa”. Sou 100% favorável à autonomia dos meios de comunicação, que têm mais do que o direito – têm o dever – de informar e de opinar, de maneira transparente, sobre o assunto que melhor lhes aprouver. Contudo, acho demasiado irritante a forma como alguns programas tratam personalidades públicas. Casseta & Planeta, CQC e Pânico na TV!, para citar os exemplos mais notórios, apresentam em seus horários um verdadeiro bombardeio contra quem quer que esteja em evidência. Com piadas e chavões que beiram o xiismo racial, sexual, religioso, físico e de gênero, estes programas transformam em bobos da corte qualquer figura. Não há o menor pudor em desrespeitar ou chacotear personalidades que, no mínimo, seriam merecedoras de respeito. Não há como negar a “presença de espírito” ou o talento destes comediantes. Mas é necessário refletir sobre os limites para a humilhação pública a que submetem seus pretensos entrevistados. Piadas de mau gosto sobre pessoas obesas, negros, mulheres e outros tipos, são fermento do preconceito e, por isto mesmo, devem ser vistas com ressalvas. O objetivo não é censurar os programas. Censura, faço eu, faz você, com nosso controle remoto. Mas é bom pensar no assunto... É válido dar risada, agredir ou ofender em função do defeito, da diferença ou do cadáver alheios?
Vamos comer ainda muito arroz com feijão, até que possamos ver a realidade estampada verdadeiramente em nossos folhetins, talk-shows e programas jornalísticos; até que conceitos mais limpos sejam realmente discutidos por eles. Este ano, após dezenas, os principais telejornais veicularam a importância do maior evento público realizado nesta nação: A Parada do Orgulho, em São Paulo, a maior do gênero no mundo. Foram 3,5 milhões de pessoas. Não dá mais pra fingir que não aconteceu. A televisão tem que assumir posturas. Há, sim, algumas contribuições. Discussões sobre uma nova formação familiar, sem amarras religiosas; sobre preconceito racial e a formação étnica de nosso país, sobre amores que suplantam convenções, sobre política, sobre liberdade de culto... Mas um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo? - Ah!!! Isto não! Nosso povo não está preparado! É o que deve imaginar a cúpula global. Até quando ficaremos vendados? Até quando vamos fingir que homem com homem e mulher com mulher são apenas alegorias para enfeitar as Paradas Gays? Até quando vamos aclamar vilões que não levam culpa e não pagam por seus crimes? Até quando vamos nos iludir com pseudo-heróis-ditadores, que fazem suas próprias leis? Até quando vamos reconduzir ao poder os mais nojentos batedores de carteira? Pra finalizar nosso papo, vou usar um chavão horroroso, mas que ilustra bem a situação: “Ainda não foi desta vez, Titia!”.
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