Após a poderosa chuva tropical que parecia anunciar o retorno à normalidade nesta porção de terra amazônica de Belém do Pará, as águas revoltas da baia do Guajará e os ventos constantes e cortantes, soprantes e quase uivantes, balançavam os galhos das frondosas mangueiras importadas da Índia e plantadas no inicio do século 20 para amenizar a temperatura e o clima da capital paraense.
O céu acinzentado, coberto de nuvens espessas e de aparência austera, parecia anunciar o eco da voz da natureza insatisfeita com os desmandos do homem que teima em combate-la - "Sou forte, bem mais forte, muito forte/ninguém me destruirá".
Os sinos da Catedral da Sé anunciavam o final do dia e a chegada tímida e sutil do anoitecer próximo à linha do Equador.
Urubus altivos e imponentes pousavam na cruz branca da Capela do Museu de Arte Sacra e exibia a sua elegância negra e lúgubre para alguns e majestosa e divina para outros.
Voltou a chuva! Entre poças d'água e por ruelas antigas me dirigi ao Mosteiro do Carmo. Adentrei a belíssima igreja onde o barroco português está derramado no altar-mor cintilante, no dourado testemunho de uma época áurea da religião católica e de seu poder na nação brasileira. No centro do cenário esculpido e folheado a ouro, encontrava-se a Virgem Maria e o seu menino Jesus nos braços.
Apreciei a nave, deslumbrei-me com as pinturas austeras quando começou o ofício sacro, a missa, com pouquíssimos adeptos e presentes, e refleti sobre a importância do misticismo no decorrer da história da humanidade.
O piso de ladrilhos hidráulicos, castigado pelos anos, as colunas de "faux marbre" (mármore falso em técnica exemplar de pintura-ilusão) me conduziram à lembrança do refugio que sempre busquei na paz dos templos e no mundo afora- Mesquita Azul, na Turquia, Catedral de Notre Dame de Paris, Igreja da Candelária no Rio de Janeiro, Catedral da Sé em São Paulo, Catedral de Sevilha, na Espanha, e as igrejas barrocas de Minas Gerais e da inebriante Bahia...
Capelas, Igrejas, Catedrais, Mesquitas, Templos budistas... Locais de culto ao desconhecido travestido de Deus ou de Divindades (santos, profetas, teólogos e representantes dos deuses em diversas formas e quantidades...)
Viva a nossa Santa Ignorância que nos levou a criar um deus, vários deuses e mitos para explicar a origem do ser humano e o por que do seu raciocinar...