Coluna | Novas Fronteiras
Pedro Coimbra
Natural de Lavras, 55 anos, é aposentado de Furnas Centrais Elétricas, jornalista e escritor. Fez cinema novo em Minas Gerais e foi crítico de O Estado de Minas. Autor do romance “Sonhos da Noite” e segundo colocado no Iº Concurso de Contos Pena Aymoré., prepara-se para editar a coletânea de uma poesia e alguns textos publicados na imprensa, no livro “Navio Pirata”
Simplesmente, Liz
30/05/2005


Morava num apartamentozinho em Copacabana e seu divertimento, quando saía do escritório era percorrer os calçadões das praias cariocas.Foi na Avenida Vieira Souto que conheceu Liz, um travesti de idade desconhecida, rosto coberto de maquiagem, cabelos muito negros de que ela se orgulhava, lentes azul violeta e vestidos de galas. Incorporara a personalidade da diva Elizabeth Taylor, e anunciava estar saindo de cena, e desta vez é para valer. Em um a entrevista ao jornal “O Globo” disse que,“tudo parecia muito superficial porque minha vida agora é a AIDS", imitando a estrela de Hollywood e confessando o seu destino. “Fui o travesti mais lindo do Rio de Janeiro, tive as pernas mais bonitas e muitos homens. Corretores da bolsa, advogados, atores famosos e garotos de surf disputavam a minha cama”.

Filho de emigrantes nordestinos, seu pai era pintor de paredes e sua mãe ex-corista do Teatro Rival e nasceu na pequena Rocha Leão, no interior. Anos mais tarde seus pais retornaram ao Rio de Janeiro e foram morar na periferia. Aos dez anos, Liz já trabalhava como office-boy num escritório da Rua São José, próximo da Avenida Rio Branco e fazia duas viagens em ônibus destroçados para chegar até lá.

Descoberto por um desenhista negro, um baiano, que o assediou sexualmente, foi trabalhar em shows de travestis e fazer programas em mansões da Barra da Tijuca. Adotou o nome de Liz, a maravilhosa estrela do estúdio MGM, e tornou-se, ele próprio, uma lenda, na boemia da Cidade Maravilhosa, reinando na Galeria Alaska.

Para muitos, Liz foi o última grande travesti, mais bonito do que Roberta Close e vivendo num tempo em que não havia seios e bundas de silicone. Como Liz Taylor, a nossa Liz era sinônimo de glamour. E sobreviveu até mesmo a uma queda de um apartamento de um motel, atirada por um jogador de futebol dopado, a um incêndio no seu apartamentozinho e a um atropelamento proposital nun desfile de Escolas de Samba...

Foi duas vezes premiado no Gala Gay e sondado para trabalhar numa novela da Rede Globo, em que Tarcísio Meira seria o galã. O que não se sabe ser verdade, porque tudo o que dizia era meio fantástico.

Morou na Europa, principalmente na Itália, mas seus desafetos diziam que o príncipe que trouxera para o Brasil não passava de um “rato de praia”.

Desfilava todos os anos pela Portela e seu maior prazer era levar sua fantasia no subúrbio para que sua mãe visse e admirasse. Nestas ocasiões pagava alguém que tivesse um carrão para levá-la. Nem bem chegava na rua empoeirada, seu Astróbulo, o pai, amarrava a cara e saía para o botequim da esquina, onde chorava as magoas e a desdita de ter um filho transviado.

Naquela vida marginal, que considerava chiquérrima, Liz conheceu todo tipo de gente: marginais, políticos, rapazotes afim de um divertimento, tarados e outros. Acabou se apaixonando por um mineiro de Montes Claros, com cara de pistoleiro e de poucas palavras. Moravam na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, e várias vezes a vizinhança teve que chamar a polícia, pois ele bebia muito e espancava Liz. Gritava sempre que ele o contaminara com a AIDS.

Dando uma volta pelo calçadão em que Liz fora assassinada pelo bandido que morava com ele, com um certeiro tiro na testa, várias bichas disseram que o mais bonito do seu enterro, no cemitério do Caju, foi uma belíssima coroa de flores, enviada por um desconhecido e que trazia escrito: Simplesmente, Liz...

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