Filho de emigrantes nordestinos, seu pai era pintor de paredes e sua mãe ex-corista do Teatro Rival e nasceu na pequena Rocha Leão, no interior. Anos mais tarde seus pais retornaram ao Rio de Janeiro e foram morar na periferia. Aos dez anos, Liz já trabalhava como office-boy num escritório da Rua São José, próximo da Avenida Rio Branco e fazia duas viagens em ônibus destroçados para chegar até lá.
Descoberto por um desenhista negro, um baiano, que o assediou sexualmente, foi trabalhar em shows de travestis e fazer programas em mansões da Barra da Tijuca. Adotou o nome de Liz, a maravilhosa estrela do estúdio MGM, e tornou-se, ele próprio, uma lenda, na boemia da Cidade Maravilhosa, reinando na Galeria Alaska.
Para muitos, Liz foi o última grande travesti, mais bonito do que Roberta Close e vivendo num tempo em que não havia seios e bundas de silicone. Como Liz Taylor, a nossa Liz era sinônimo de glamour. E sobreviveu até mesmo a uma queda de um apartamento de um motel, atirada por um jogador de futebol dopado, a um incêndio no seu apartamentozinho e a um atropelamento proposital nun desfile de Escolas de Samba...
Foi duas vezes premiado no Gala Gay e sondado para trabalhar numa novela da Rede Globo, em que Tarcísio Meira seria o galã. O que não se sabe ser verdade, porque tudo o que dizia era meio fantástico.
Morou na Europa, principalmente na Itália, mas seus desafetos diziam que o príncipe que trouxera para o Brasil não passava de um “rato de praia”.
Desfilava todos os anos pela Portela e seu maior prazer era levar sua fantasia no subúrbio para que sua mãe visse e admirasse. Nestas ocasiões pagava alguém que tivesse um carrão para levá-la. Nem bem chegava na rua empoeirada, seu Astróbulo, o pai, amarrava a cara e saía para o botequim da esquina, onde chorava as magoas e a desdita de ter um filho transviado.
Naquela vida marginal, que considerava chiquérrima, Liz conheceu todo tipo de gente: marginais, políticos, rapazotes afim de um divertimento, tarados e outros. Acabou se apaixonando por um mineiro de Montes Claros, com cara de pistoleiro e de poucas palavras. Moravam na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, e várias vezes a vizinhança teve que chamar a polícia, pois ele bebia muito e espancava Liz. Gritava sempre que ele o contaminara com a AIDS.
Dando uma volta pelo calçadão em que Liz fora assassinada pelo bandido que morava com ele, com um certeiro tiro na testa, várias bichas disseram que o mais bonito do seu enterro, no cemitério do Caju, foi uma belíssima coroa de flores, enviada por um desconhecido e que trazia escrito: Simplesmente, Liz...
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