Conheci de perto o trabalho do então cardeal Prevost no Peru – onde, por duas décadas, ele não apenas pregou o Evangelho, mas o viveu. Seus pés sujos de barro nas favelas de Lima, suas mãos calejadas abençoando imigrantes abandonados nas fronteiras, sua coragem em denunciar a exploração dos trabalhadores: eis o retrato do pastor que agora assume o comando da Igreja. Não por acaso, seu nome homenageia Leão XIII, o papa que, em 1891, ousou desafiar o capitalismo selvagem com a encíclica Rerum Novarum, defendendo sindicatos e salários justos.
Quando o conclave elevou ao papado o cardeal Robert Francis Prevost, batizando-o como Leão XIV, não escolheu apenas um nome, mas um projeto. Um recado claro ao mundo: a Igreja Católica não recuará em sua missão de ser voz dos excluídos, ponte entre os povos e farol de esperança em tempos de guerra e desigualdade.
Frei Leão, o discípulo mais próximo de São Francisco de Assis, era um homem simples, de "olhar amedrontado" e coração imenso. Foi a ele que São Francisco dedicou sua única carta autógrafa, cheia de ternura maternal: "Se precisares de consolo, vem a mim, Leão!". Essa relação revela o que esperar deste novo papado: não um líder de tronos dourados, mas um irmão que, como frei Leão, caminha ao lado do povo, escuta seus gemidos e transforma luta em oração.
Aos que temem que a Igreja retroceda, digo: observem os gestos. Um papa que escolhe "Leão" não se curva a conveniências – honra os que, como frei Leão, foram fiéis na obscuridade. E aos que duvidam que política e fé podem se aliar, lembro: não há justiça social sem ousadia espiritual. Se São Francisco reconstruiu a Igreja tijolo a tijolo, com as mãos sangrando, Leão XIV chega para afirmar que a obra continua. Cabe a nós, parlamentares e fiéis, sermos como frei Leão: não os heróis da história, mas os que sustentam, com persistência silenciosa, os que ousam mudá-la. Que São Francisco e frei Leão intercedam por este novo Papa. E que nós, como Igreja viva, não o deixemos caminhar sozinho.
Padre João Deputado federal
