Coluna | Novas Fronteiras
Pedro Coimbra
Natural de Lavras, 55 anos, é aposentado de Furnas Centrais Elétricas, jornalista e escritor. Fez cinema novo em Minas Gerais e foi crítico de O Estado de Minas. Autor do romance “Sonhos da Noite” e segundo colocado no Iº Concurso de Contos Pena Aymoré., prepara-se para editar a coletânea de uma poesia e alguns textos publicados na imprensa, no livro “Navio Pirata”
Tudo
09/11/2007
O feriado prolongado começou prazeroso trazendo a notícia da chegada do meu filho querido Rodrigo, da Mary e da netinha Julia que não víamos há um bom tempo.

Na antevéspera de Finados, no Espaguetão, a rapaziada se atirava literalmente a compra de ingressos para uma grande festa, denominada “Bebendo o morto” ou coisa semelhante.

Outros tempos. Tudo mudado. Tudo.

Como de costume não visitei os túmulos de meus ancestrais que guardo sempre na lembrança.

O calor fora do normal e a onda de pernilongos irritantes nos fragilizam, insones.

No meio da tarde recebo a notícia que Carlos Renato de Souza, o Nanato, meu primo, um ano mais novo que eu, morrera subitamente.

Deixou-nos um dos personagens das minhas estórias, sem delongas e sofrimento para o qual não estaria talhado, pois a seu modo era um apaixonado pela agitação da vida.

Com sua saída de cena junta-se a minha prima Hanah que já se foi e restam Rutênio, Érbio e eu, da turminha de primos que se divertia na infância na esfuziante horta da casa de tio Tullio, entre mangueiras e jabuticabeiras...

Nunca mais saberemos também até que ponto era verdade o seu depoimento a revista “O Cruzeiro”, na década de 60, sobre um objeto não identificado avistado por ele e outros companheiros atiradores nas terras lavrenses...

No mesmo final de semana um jato executivo desaba sobre a casa de famílias que preparavam-se para o almoço, em São Paulo, desavisadamente.

E o rosto mumificado de Tutancâmon, o rei do Egito que morreu com dezenove anos, é pela primeira vez exposto publicamente.

Eu, que gosto de estudar diariamente a imortalidade do espírito, e que já passei pela experiência da quase-morte, me entrego ao pânico diante da existência desta presença nefasta que é a Morte.

E por entre o odor da citronela desprendido de uma vela no castiçal sobre o criado-mudo, no quarto de janelas fechadas, do calor impróprio para o horário e do burburinho do aparelho de televisão, sinto-me mal.

Seria momento de se lembrar do poeta Cruz e Souza?

“A música da Morte, a nebulosa, /

estranha, imensa música sombria, /

passa a tremer pela minh'alma e fria /

gela, fica a tremer, maravilhosa...”

Escrever sobre a Morte é agradável apenas como um exercício de estilo.

Temê-la já e coisa diferente.

Como o pavor que senti recentemente ao fazer um curto vôo de Belo Horizonte a Porto Seguro. Fui dormindo e no dia do retorno me vi abruptamente colocado ao lado de um televisor, rezando junto com um destes pastores eletrônicos que povoam as madrugadas de domingo, paralisado.

Mas como não temer o pior com tantos desastres aéreos e rodoviários, a bruxa a solta, como diziam os mais velhos?

Medito se conseguirei atingir os oitenta anos bem vividos como meu pai e minha mãe.

Ou serei mais um Tutancâmon, esperando renascer em outra existência, e que teria medo e desprezo do que lhe restou do magnífico aspecto material da realeza...

Bom mesmo seria se conseguíssemos desligar o nosso cérebro tão ativo, que nos difere do restante da criação e passar ao largo desta experiência avassaladora.

Afinal de contas a vida está aí é para ser vivida, com todos os problemas e incidentes que criamos.

É preciso que acreditemos no futuro, seja qual for ele.

E saber sempre que o grande mistério da vida é a morte...

Neste momento talvez o que disse Guimarães Rosa seja mais importante do que os versos do poeta simbolista:

“As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

É o que almejamos...

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