Coluna | Expressão
Fabricio Serafim
34, é economista e ativista social em Varginha-MG, escreve às quintas-feiras neste espaço, no jornal Correio do Sul (Varginha) e no Jornal do Estado (Pouso Alegre).
Ariano, Aneglina, pai João e pai Torres
14/06/2007
Com a idade que chega, acho que me tornei um emotivo. Ou será que sou daqueles poucos que ainda têm a capacidade de se emocionar com o sofrimento e a conquista alheios?

Sem entrar no mérito das intenções, sem ficar imaginando que existe uma conspiração por trás de tudo o que aparece na TV, assistindo uma entrevista com o Ariano Suassuna, que completa 80 anos, fiquei emocionado. Lucidez de um nordestino que, por opção, nunca saiu do Brasil, nem para fazer turismo e consegue escrever sobre a saga dos sertanejos em sua obra. Diz ele na entrevista: “-O que é muito difícil é você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Eu digo sempre que, das três chamadas virtudes teologais, eu sou fraco na fé e fraco da caridade; só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança”. Chorei. Em “O Auto da Compadecida”, obra adaptada em filme, como não se emocionar com o julgamento final dos personagens, onde Suassuna descreve, com sensibilidade, a tragédia que é nascer, crescer e morrer no sertão do nordeste brasileiro? Haja lenço de papel!

Vendo alguns filmes cliché, também não consegui conter o pranto. O genocídio em Ruanda, financiado pelo FMI, surrupiando a vida de mais de 800.000 pessoas, retratado em “Hotel Ruanda”. A guerra civil em Serra Leoa, financiada pelos traficantes de diamantes, geralmente norte-americanos, onde crianças eram aliciadas, barrigas de mulheres grávidas cortadas, mãos e braços decepados. Atrocidades interpretadas no recente “Diamantes de Sangue”.

Ao receber um e-mail com aqueles anexos gigantescos, por curiosidade, abri o arquivo. Lá estava a Angelina Jolie, linda, correndo o mundo como embaixadora da boa vontade, cidadã do mundo, doando um terço de seus rendimentos para causas humanitárias, exibindo orgulhosamente sua família multi racial e cobrando dos governos atitudes e ações no combate à miséria e à violência. Lágrimas.

E, pra completar minha saga de perturbação, no último domingo, pude assistir uma matéria de 11 minutos, tratando sobre a luta e as conquistas de homossexuais no país, em complemento à notícia da Parada do Orgulho, em São Paulo, para a qual, durante dez anos, a Rede Globo virou as costas, fazendo “boca de siri”. Agora, com mais de três milhões de participantes, não dá pra fingir que o evento não existe. É a maior manifestação de cunho político não partidário do país.

A matéria cita, além da conquista da terra por um casal de lésbicas e da demanda judicial de uma transexual por reconhecimento de seus direitos junto à Força Aérea, onde atuou por vinte e dois anos, uma história que, em particular, me emocionou: Um casal de homens, juntos há mais de quinze anos e que já conviviam com os dois filhos naturais de um deles, ganhou na justiça o direito de adotar quatro crianças. Irmãos, que têm entre quatro e dez anos. Em seu depoimento, uma das crianças afirma: “-Eu já tinha perdido a esperança de ser feliz, eu e meus irmãos, mas aí apareceu o Pai João e o Pai Torres...”. E dá-lhe água salgada escorrendo dos olhos!

Mas, podem me perguntar: “-E aí? Do que adianta tanto choro e pouca vela?”

Então respondo: -Se ainda podemos exteriorizar emoções, se ainda conseguimos ficar indignados e se estas reações provocarem ações reais, estamos no caminho!

Vamos chorar! Mas aliado ao choro, vamos plantar árvores, economizar água, fazer passeatas, exigir julgamentos e cobrar punições. Vamos fazer trabalho voluntário, alfabetizar, adotar crianças, preservar direitos.

Estou deveras cansado de tanta falação e tão pouca ação. Que tal unir seu lado piegas à sua faceta militante? O mundo convida! E você? Vai sair do comodismo? Tem coragem de participar?

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