Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Tokyo, um espetáculo sutil
12/03/2014
- Todos sabemos que faz frio, no inverno, em Tokyo. Por isso imagino que não seja estimulante fotografar por lá nesse período, estou certo? 

- É verdade que o frio pode intimidar um pouco qualquer pessoa a fazer atividades externas, e isto em qualquer lugar do mundo. No entanto, nesta passagem por Tokyo, a vontade de registrar a cidade era tão grande que o frio se tornou um elemento totalmente secundário! Ao contrario do frio de Paris ou de Londres, ou até mesmo de São Paulo, o frio de Tokyo é seco e a sensação térmica não é tão ruim e invasiva quanto na capital Paulista. Fez sol durante praticamente todos os dias e a luz estava muito boa para fotografar! Para quem não gosta de acordar cedo como eu, o inverno, com seu nascer do sol mais tardio, me permitia também aproveitar aquela luz mágica da famosa hora dourada não só ao entardecer, mas também ao amanhecer! Também aproveitei da experiência do rude inverno europeu para me preparar para minhas caminhadas fotográficas: diversas camadas de roupa, e uma camada por cima para garantir! Foi um prazer registrar momentos nesse período do ano.

- Por ser uma das maiores metrópoles do mundo, certamente não se enxerga o horizonte a não ser de alguns mirantes ou belvederes. Então, que graça tem captar imagens em uma cidade composta de grandes edifícios e totalmente construída para exaltar a engenharia e a arquitetura e esconder a natureza? 

 

- A Tokyo que eu visitei não corresponde nem um pouco à imagem que você tem dela. É uma cidade extensa, vertical, e em alguns lugares com ares futuristas! Mas ao mesmo tempo é uma cidade verde, com templos, jardins e parques. Nunca esquecerei quando entrei no parque Yoyogi para visitar o Templo Meiji Jingu. Este parque, situado entre duas das regiões mais agitadas de Tokyo - Shibuya e Shinjuku - era um oásis de paz e serenidade. Se pudesse utilizar uma palavra para descrever a capital japonesa, seria "Harmonia": harmonia entre natureza, passado e modernidade; harmonia entre a frenesi cotidiana e o espirito zen. Em Tokyo, se pode sair de uma imensa torre metálica futurista onde se tem um emprego massante e tomar um cha em uma cabana de madeira `a beira lago apenas ao cruzar a rua. Em Tokyo se pode rapidamente trocar de marcha, e passar de um estado de alerta a um estado de paz interior. Esta mescla me fascinava e tentei muitas vezes capturá-la em algumas fotos.

- Não se houve falar de Tókyo como uma cidade aprazível e ou elegante. Os metrôs assuntam pelo excesso de gente e pela falta de contato entre as pessoas que o frequentam. Isso é verdade? 

 - Diferentemente de uma cidade como Paris, que normalmente já impressiona à primeira vista, Tokyo a principio não tem esse impacto visual imediato. A beleza da cidade não vem de monumentos mundialmente famosos, mas sim de pequenos elementos do cotidiano e na descoberta das especificidade de cada bairro. A beleza vem daquela sensação de estamos frente a algo que não compreendemos, vem da interação e da experiência. Se Paris fosse uma mulher, a descreveria como aquela de beleza aparente, exuberante e universal que encanta de imediato, Tokyo seria aquela mulher mais discreta, com uma beleza mais sutil, mas que com um olhar misterioso nos fisga e nos dá vontade de conhecê-la melhor. O contato que tive com os japoneses foi muito positivo, longe da imagem fria e distante que podemos imaginar deles! Poucos falam inglês, o que dificulta a comunicação, mas uma anedota permite resumir bem a boa impressão que tive deles: no bairro histórico de Asakusa, comprei um bonequinho Daruma para lhe presentear. O vendedor começou então a me explicar com grande nível de detalhe toda a tradição que engloba este pequeno talismã... foram cinco minutos de discurso, alegre e sorridente... em japonês! Não sei porque, mas eu senti que, para ele, se na forma eu não estava entendendo nada, no fundo eu tinha entendido tudo! Chegando no hotel pesquisei um pouco melhor sobre o pequeno Daruma, e me dei conta que na verdade sua história era exatamente o que eu tinha "compreendido" em japonês! Era tanta boa vontade em querer me explicar e me ensinar sua cultura que a comunicação se fez quase que por osmose! Mistérios da mente humana não?

- Pelo excesso de influência ocidental, entendo que Tokyo tenha perdido a sua alma oriental. As pessoas se vestem mal, como em São Paulo ,e a elegância já não faz mais parte da vestimenta dos seus habitantes. Por que então fotografá-los? 

- Uma das razões pela qual Tokyo fascina tantos visitantes do mundo inteiro, é que ela consegue ser ao mesmo tempo uma metrópole cheia de referencias ocidentais nossas com uma alma oriental! Pensamos nos sentir em casa por ser uma cidade aparentemente semelhante à nossa, mas ao mesmo tempo somos sugados por esta alma mais tradicional que nos faz rapidamente perder o norte. Ja que falamos de moda, vê-se com freqüência uma mistura entre homens bem vestidos, de terno e gravata e mulheres usando seus tradicionais kimonos para passear. Mas o que me motivava a fotografar os japoneses não eram suas vestimentas, mas sim seus comportamentos no dia a dia! Andava ultimamente inspirado por grandes fotógrafos da fotografia de rua francesa, como Doisneau e Henri Cartier Bresson, que se especializaram em imortalizar a beleza do cotidiano parisiense. Eu, como estrangeiro africano-europeu-sulamericano, estava curioso em registrar a beleza de um cotidiano japonês que não era meu. E a sorte que tinha é que a relação dos japoneses com a câmera fotográfica é muito mais amistosa que em outras cidades ocidentais! Pode ser um caso de sorte, mas nenhum pareceu se ofuscar pela presença da minha lente. Não se pode dizer o mesmo por aqui em Paris!

 

- O que viu de belo que tenha sido a motivação para sua captação de imagens, pela fotografia ,em Tókio? Sinta-se livre e me conte. Vamos lá. 

- É difícil definir exatamente o que me motivou a seguir fazendo fotos por lá, mas fora as belezas que fui descobrindo em templos, parques, arranha-céus e outros, eu gostei muito da energia da cidade e do fluxo das pessoas.Tive que passar, por exemplo, duas vezes por Shibuya apenas para observar as pessoas atravessando a rua. Era uma confusão ordenada, pessoas caminhando por todas as direções sem nunca trombar. Poderia ficar por horas observando aquele cruzamento e tentando imaginar onde cada pessoa estava indo.Um pouco como aquela brincadeira de crianças em cidades portuárias, que tentam imaginar o que cada barco esta fazendo por lá. A energia de Tokyo foi minha maior motivação para captação de imagens, mas ao mesmo tempo meu maior desafio: como transmitir esta energia em uma foto? 

- Deseja mostrar e disponibilizar o material registrado a pessoas que também sonham em ir ao Japão? De que forma deseja fazê-lo? 

- Seria um prazer poder mostrar o material registrado! Um colega homônimo meu aqui em Paris já tinha contribuído, através de suas fotos, a minha motivação em conhecer o Japão! Espero poder fazer o mesmo com outros! 

- Que dicas de fotografias você daria a um jovem fotógrafo que iria a Paris pela primeira vez em sua vida? E em Tókyo? 

- Por ser eu mesmo um jovem fotógrafo, daria a mesma dica que estou tentando aplicar a mim mesmo. Registrar os marcos da cidade é muito legal, no sentindo de documentar a sua viagem, mas a maior graça está no registro das sensações que estamos vivendo durante a viagem. Mas saindo desta dica mais abstrata, poderia também dizer, no caso de Paris, que a Torre Eiffel é linda sob todos os ângulos. E seu mais belo angulo com certeza não é o mais óbvio. 

- Em nosso próximo artigo, falemos de Paris, concorda? 

- Claro!

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