Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Lucia Maria de Brito Ávila . Um fim Cruel e Desumano.
20/03/2013

- Adeus. Adeus Lucinha .Adeus após tantos anos de injustiça.

- Injustiça?

- Lúcia nasceu com mais de um mês de atraso. Na época, a cesariana não era comumente praticada e dessa forma aguardaram a "benção de Deus" para que pudesse ver a luz do dia.

- Veio ao mundo com problemas de saúde que a acompanharam desde a tenra infância. Fisicamente, não era privilegiada. Era míope , usava óculos com lentes espessas, tinha pouco apetite e vivia reclusa , não participando da vida social de suas exuberantes irmãs no auge da juventude.

- Na escola estava sempre deixada de lado e em casa supria sua necessidade de carinho através do som de um acordeão que parecia jorrar lágrimas por todas as tardes calorentas na metrópole frenética que também não a inseria em seu contexto vital.

- Lúcia , aos poucos, foi tomando gosto pela culinária- nossa mãe, mineira de Uberaba, era uma exímia cozinheira- e descobrindo dessa forma uma razão para apreciar a Vida ao levar o prazer gustativo aos demais.

- Com sua imaginação tecia em crochê jogos americanos,porta-copos,centros de mesa,colchas com desenhos geométricos, todos  minuciosamente construídos com paciência e obstinação.Era a satisfação dos parentes que levavam para seus lares a "Grife Lucinha". Das residências mais abastadas aos cantos mais simples , todos se orgulhavam em ter em sua intimidade familiar obras dessas mãos geniais.

- Os irmãos sempre tinham notícias uns dos outros através desse ser discreto e pacificador. Notícias dos irmãos, tios e primos , de norte a sul; de Jataí, em Goiás, a Petrolina , em Pernambuco, passando por Umuarama no Paraná ou Uberaba em Minas Gerais, nos chegavam de forma gentil e pacificadora.

- O monstro , um câncer arrebatador, devorou as energias da minha  querida irmã e tirou-lhe o direito de conviver no cotidiano simples quando tomar  um café na esquina passou a ser um evento impossível pois seu corpo desfalecia à medida em que a doença progredia assustadoramente. Lúcia perdia o apetite, os cabelos, os movimentos vitais ,mas não perdia a fé e esperança de vencer e derrotar o ser maligno destinado a arrebatar-lhe a vida.

- No dia 15 de janeiro, dois dias antes de seu aniversário, Lúcia faleceu. Eu estava ao seu lado e o som apavorante  do aparelho que media a sua  frequência cardíaca denunciou o fim de uma vida conturbada de um ser querido por muitos, incompreendido por vários e menosprezado por alguns.

- Adeus. Adeus minha querida irmã. Adeus forrinhos de crochê, adeus gentilezas sutis, adeus Ser querido.Quanta nostalgia, quanta tristeza, quanta decepção com o Destino.Debruço-me na escuridão da incompreensão e busco luz no horizonte da existencia humana.Adeus.

 

Fábio Brito

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