Coluna | Expressão
Fabricio Serafim
34, é economista e ativista social em Varginha-MG, escreve às quintas-feiras neste espaço, no jornal Correio do Sul (Varginha) e no Jornal do Estado (Pouso Alegre).
Ainda não foi desta vez, titia!
02/06/2008
Ventos de mudança varrem terras tupiniquins. Algumas lufadas trazem boas novas. Outras desfraldam resquícios de um tempo em que democracia era palavra de pronúncia proibida para os mortais. Sem contar as que garganteiam os excessos produzidos pela liberdade de expressão a qualquer preço.

Neste afã, três assuntos mereceram destaque na semana, sob meu ponto de vista:

Para começo de conversa, o Supremo Tribunal Federal, de forma limpa e clara libera as pesquisas com células tronco embrionárias, após exaustiva discussão dos Ministros, cujas justificativas – favoráveis ou contrárias – embasaram-se em estudos, pesquisas de campo, entrevistas com cientistas, médicos, pacientes, religiosos, etc. A decisão do STF demonstra o quanto uma discussão madura contribui para o avanço, para a formação de uma sólida opinião sobre temas tão importantes, que não podem ser resolvidos a partir de dogmas, mas sim por meio de debates concisos. Apesar de ser absolutamente favorável às pesquisas, não deixei de ficar encantado com a eloqüência dos magistrados que votaram contra e, confesso, aprendi muito com eles. Mais uma vez, reafirmo minha convicção de que a expressão de idéias e a discussão em torno das mesmas ainda é o melhor caminho para adquirir conhecimento e, a partir de então, opinar com maior intensidade, de forma coerente.

Em um segundo momento, quero questionar a dita “liberdade de imprensa”. Sou 100% favorável à autonomia dos meios de comunicação, que têm mais do que o direito – têm o dever – de informar e de opinar, de maneira transparente, sobre o assunto que melhor lhes aprouver. Contudo, acho demasiado irritante a forma como alguns programas tratam personalidades públicas. Casseta & Planeta, CQC e Pânico na TV!, para citar os exemplos mais notórios, apresentam em seus horários um verdadeiro bombardeio contra quem quer que esteja em evidência. Com piadas e chavões que beiram o xiismo racial, sexual, religioso, físico e de gênero, estes programas transformam em bobos da corte qualquer figura. Não há o menor pudor em desrespeitar ou chacotear personalidades que, no mínimo, seriam merecedoras de respeito. Não há como negar a “presença de espírito” ou o talento destes comediantes. Mas é necessário refletir sobre os limites para a humilhação pública a que submetem seus pretensos entrevistados. Piadas de mau gosto sobre pessoas obesas, negros, mulheres e outros tipos, são fermento do preconceito e, por isto mesmo, devem ser vistas com ressalvas. O objetivo não é censurar os programas. Censura, faço eu, faz você, com nosso controle remoto. Mas é bom pensar no assunto... É válido dar risada, agredir ou ofender em função do defeito, da diferença ou do cadáver alheios?

Vamos comer ainda muito arroz com feijão, até que possamos ver a realidade estampada verdadeiramente em nossos folhetins, talk-shows e programas jornalísticos; até que conceitos mais limpos sejam realmente discutidos por eles. Este ano, após dezenas, os principais telejornais veicularam a importância do maior evento público realizado nesta nação: A Parada do Orgulho, em São Paulo, a maior do gênero no mundo. Foram 3,5 milhões de pessoas. Não dá mais pra fingir que não aconteceu. A televisão tem que assumir posturas. Há, sim, algumas contribuições. Discussões sobre uma nova formação familiar, sem amarras religiosas; sobre preconceito racial e a formação étnica de nosso país, sobre amores que suplantam convenções, sobre política, sobre liberdade de culto... Mas um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo? - Ah!!! Isto não! Nosso povo não está preparado! É o que deve imaginar a cúpula global. Até quando ficaremos vendados? Até quando vamos fingir que homem com homem e mulher com mulher são apenas alegorias para enfeitar as Paradas Gays? Até quando vamos aclamar vilões que não levam culpa e não pagam por seus crimes? Até quando vamos nos iludir com pseudo-heróis-ditadores, que fazem suas próprias leis? Até quando vamos reconduzir ao poder os mais nojentos batedores de carteira? Pra finalizar nosso papo, vou usar um chavão horroroso, mas que ilustra bem a situação: “Ainda não foi desta vez, Titia!”.

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